Nigl: ponto para a dissonância

[2 dez 2013 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]
Weingut Nigl Privat Senftenberger Pellingen Kremstal Gruner Veltliner

Grûner veltliner na seleção do restaurante Atera, em Nova York, para combinar com o sushi servido no menu degustação da casa (FOTO Pedro Mello e Souza)

Conheçam o Nigl, rótulo simples, quase o apelido de um vinho que o produtor apresenta como um pedigree de cachorro da rainha: Weingut Nigl Privat Senftenberger Pellingen Kremstal Grüner Veltliner. Ah, sim, faltou o 2011 e – e a hora é essa, tem a sua prova recomendada até 2014, segundo a Wine Spectator. Esse branco chegou como uma curiosa opção no generoso wine pairing do menu degustação do restaurante Atera, que esta editoria vai logo avisando: é o melhor restaurante de Nova York.

 

Se todos são definitivos em relação à uva sugerida, a grüner weltliner, é melhor pensar duas vezes diante desse rótulo – e da vinícola, premiadíssima pelos vinhos de uvas passificadas. A rigor, o nome diz tudo: grüner é alemão e significa “o mais verde”. Veltlin é a referência que os austríacos fazem a uma de suas regiões vizinhas na Itália, a Valetllina, no extremo norte da Lombardia, bem conhecida pelas carnes frias que encantam os gourmets.

 

Em ambas as expressões, vale a tradução direta: o frescor dessa uva branca, que marca os mais modernos vinhos da Áustria com duas outras notas: a acidez e os minerais. É um dos poucos vinhos que desafiam os seus equivalentes nos restaurantes franceses, mas pode ser encontrado em cartas nobres de Londres, nos restaurantes estrelados da Suíça .

 

Diver scallop: vieira japonesa com o vinho branco austríaco, no Atera (FOTO Pedro Mello e Souza)

No caso do Atera, foi diferente: o motivo da sugestão era um sashimi do chamado diver scallop – uma vieira selvagem, colhida por mergulhador, livre da infestação das fazendas. Delicadeza de uma tez. Na guarnição, uma couve fermentada, uma gênese do kimchi. Mas o vinho não veio vibrante como seu sangue azul determina dos wikipedias. Veio limpo, de aroma ligeiro e, sim, fresco. Mas com leveza (inclusive o do álcool baixíssimo) para levantar a vieira – e a estrutura necessária para dar o colorido do repolho.

 

O sommelier Scott Cameron explicou o porquê da  escolha: a combinação. Pura e simples, sem alquimias ou dogmas acadêmicos, que afastariam, na teoria, aquele prato e aquele copo. “Experimentamos dois saquês da carta, mas achamos que eram mais adequados com outros pratos, enquanto o austíaco era mais adequado para o sashimi”. Ponto para a dissonância, da qual os vienenses entendem bem desde Mozart. “É bobagem ficar exibindo rótulos caros, quando temos tantas delightful combinations“, arrematou Cameron, ipsis literis.

 

Rótulo: Nigl Privat Grüner Veltliner 2011

Produtor: Weingut Nigl

Região: Kremstal

País: Áustria

Corte: grüner veltliner

Estágio: 4 meses em barricas novas

Álcool: 9,5%

 

Cotações:

 

Wine Spectator: 91

Jancis Robinson: 18/20 (2005 – não fizeram degustações posteriores desse rótulo)

Wine searcher: 93

Falstaf Magazin: 92-94

Talheres: 88-85 (Abriu bem, exuberante, com frescor, flor e frutas. Mas senti falta de acidez e desaparecimento dos aromas no fim)

 

 

 


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