A Experiência CT Brasserie

[27 jul 2015 | Pedro Mello e Souza | Um comentário ]

Rigatone com ragu de carne assada à bolonhesa (Foto: Pedro Mello e Souza)

 

No almoço com a minha amiga Marise Berg, encaramos a esfinge: queremos devorar, não decifrar. Em suma, qual o restaurante decente do Fashion Mall, onde marcamos, que serviria algum prato própria para ela, vegetariana daquelas muitas que sabem o que comem – mas, como admirável nutricionista que é, das poucas que sabem o que diz. Será que o CT Brasserie tem alguma coisa melhor do que uma simples salada?, pensamos. Aventureiros que sempre fomos, para lá partimos.

 

Para um local que se diz brasserie, o que menos se espera é ter uma seção principal toda dedicada à mais castiça cozinha italiana da nonna. Até discuti isso com o Ricardo Amaral, quando ele questionou meu texto sobre o restaurante, que ele encomendou para o guia de restaurantes que ele fez com o Boni. Depois, ele me deu razão. Afinal, o lado mais equilibrado do menu era o de massas e risotos à italiana. Ou à sul-americana, já que um desses risotos era de quínoa. Na medida: bem al dente, refogadinho de tomates e legumes, azeite, salpico de brotos. É do tipo de prato que prefiro comer com colher do que com garfo. E, para alegria da Marise, adoravelmente vegetariano.

 

Flying Solo Pays d’Oc, grenache blanc e viognier (Foto: Pedro Mello e Souza)

Penne de paleta de cordeiro, cogumelos, farofa crocante (Foto: Pedro Mello e Souza)

Segui a linha e fui e me ataquei com um risoto de rabada. Também no ponto certo, com o molho equilibrado, delicado. Deu certo e, apesar do molho, fomos de vinho branco, um Flying Solo, sul da França, com a personalidade digna da minha contribuição para o lado vegan da refeição: o viognier e o grenache blanc.

 

Um parêntese rápido sobre a relação dos grandes chefs franceses com a cozinha dita italiana: quem folheia o antiquado Larousse Gastronomique repara em quanto a edição, do início do século 20, ignora os pratos italianos. Mas quem lê Le Diccionaire Amoureux de la Cuisine, de Alain Ducasse, de um século depois, sente o brilho das estrelas que um autor de gastronomia (duplo senso) deve dedicar aos italianos. Nos capítulos que nos dizem respeito aqui, Ducasse declara-se especialmente, perdidamente apaixonado. Com alguém da família Troisgros, isso não seria diferente.


Conexão ítalo-peruana no risoto de quinua (Foto: Pedro Mello e Souza)

Domaine Sérol Selection Claude Troisgros (Foto: Pedro Mello e Souza)

Tempos depois, lá fui eu de novo ao CT Brasserie, dessa vez com três amigas de São Paulo. Na hora do cardápio, olharam pra mim, claro, com a boca torta e afrancesada pelo deboche: “afinal de contas, não é você le gourmet?”. E, tal como na primeira vez, lá fui eu, meio inseguro, para o lado Itália do Claude. Veio o penne de paleta de cordeiro, cogumelos e farofa crocante, pra citar logo o melhor deles. Veio o rigatone com ragu de carne assada à bolonhesa, muito bom. E veio um risoto de aspargos meio firulento, com espuma de trufas brancas. Bom. E, funcionando como um verdadeiro molho para todos eles, o agradável Domaine Sérol, um gamay do Loire, que a propaganda da casa afirma ser uma seleção do próprio Pierre Troisgros.

 

Não estava cheio, mas o ambiente era ótimo. Parecia um daqueles ambientes de restaurates com janelões, de Nova York. Serviço, rapidinho e, em ambos os casos, os pratos vieram com agilidade. Mas bem montados. E, de tão bem servidos, dispensaram a sobremesa. Nem as vi no cardápio, pra falar a verdade, mas, com a orientação italiana,  apostaria em um tiramisù, mesmo sabendo que eles não existem no Brasil (saiba aqui o porquê). Mas tem burrata na entrada e, como convém a uma autêntica brasserie italiana, a seleção de pizzas.

 

Risoto de rabada, a dica que eu guardei pra mim (Foto: Pedro Mello e Souza)

Risoto de camarão, aspargos e trufas brancas (Foto: Pedro Mello e Souza)

 

 

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Depoimentos

  1. marise disse:

    Saudade de você. E desse risoto delicioso! BJo grande