Benoit: 100 anos

[6 fev 2012 | Pedro Mello e Souza | 2 comentários ]

Benoit: cuidados até no design da louça.

 

 

Em abril, fiz uma brincadeira sobre o lado B de Alain Ducasse. E citei o restaurante Benoit, que fica no Marais, próximo ao Palácio da Justiça. Em outubro, visitei o restaurante, que, silenciosamente, está completando 100 anos de existência, dentro do Esprit du Bistro, como quis o chef, que conquistou a primeira estrela Michelin para um restaurante do gênero logo que o assumiu, em 2005.

 

Cardápio enxuto, especialidades de brasserie, louças e talheres ricamente decorados e ambiente fiel ao da Belle Époque, com os ferros, cobre e bronzes da decoração e das molduras de janelas em art nouveau, que dão aquele mesmo tom amarelado ao ambiente, que Woody Allen, com muito esforço e alguma graça, reproduziu em filme recente. E um atendimento tão atencioso que beirou o exagero.

 

Peça o champanhe da casa a trarão um par de gougères, duas nuvens, o pão de queijo autêntico. Peça o vinho branco em sugestão e indicarão os escargots, preparados da forma mais tradicional, com a manteiga de alho e salsa, macios, gordos, saborosos. Não se avexe de pedir auxílio com os utensílios – a pinça e o garfinho – ou o destino de sua bela camisa será o lixo.

 

Entre os pratos principais, vale a pena experimentar o tourbot, uma gigantesca variedade de linguado – às vezes maior do que a própria mesa. É preparado na grelha finíssima, com suculência garantida. A manteiga do molho é de Isigny, um pedigree que já me fez acreditar algumas vezes que jamais tinha experimentado uma manteiga antes. Na guarnição, uma torta de blettes e espinafres, praticamente um prato à parte.

 

 

O turbot aux morilles (Foto: Pedro Mello e Souza)

 

Na extravagância final, vale a pena substituir as sobremesas – o garçom sugeria nervosamente o paris-brest – pela pratada de foie gras (muito) com ris de veau (aqui, as mollejas), cristas de galo (isso mesmo, com serrinha e tudo), cavaquinhas e massinhas do tipo concha. Falei em pratada, mas veio em panela, com garfo, faca e… colher. Essa colher foi o meu Waterloo: era uma sugestão para atacar o prato desde o fundo, com o molho rico em manteiga e a gordura do foie.

 

Ris de veau, foie gras e crêtes de coq (Foto: Pedro Mello e Souza)

 

É o típico prato para se pedir antes do pelotão de fuzilamento, pois, além do prazer derradeiro do condenado, as conseqüências coronárias podem até tornar a execução perfeitamente dispensável. Mas o fato é que a brincadeira do lado B de Ducasse só vale mesmo pelo achado do nome dos restaurantes. O cara mostra, em cada detalhe, que a sua música é, e sempre será, do lado A.

 

Benoît (aqui, sim, com a grafia correta, com o circunflexo exigido)

20, rue Saint Martin

Reservas: 1 42 72 25 76

restaurant.benoit@wanadoo.fr

 

Benoit e o centenário (Foto: Pedro Mello e Souza)

 

 


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Depoimentos

  1. Mlle Poulain disse:

    Um deleite seus posts, que habilidade no manuseio da pluma… e dos talheres !

    So’ acrescento deux petites choses:
    1. o Marais é delimitado pela rue Beaubourg, a rue St Martin vem logo depois,
    2. os champignons sobre o seu Turbot se parecem mais com girolles, nao ?

    Assinado, a chata Amélie que gostou muito do blog e que vai voltar sempre, à très bientôt !