Etna: as levas do vulcão

[10 abr 2016 | Pedro Mello e Souza | 2 comentários ]

Etna: tempos áureos das terras negras (Foto: Pedro Mello e Souza)

 

O ambiente das vinhas no sopé do Etna é de uma beleza quase sinistra. A terra nera, que batiza alguns dos rótulos, é densa e escura como um pó de chocolate amargo. Mas suave, que cede ao passo do homem. E do tempo. Algumas ruínas pontuam a paisagem e dão o testemunho de uma atividade mais devastadora do que qualquer das erupções do belíssimo vulcão siciliano: a legislação.

 

Foi nos anos 40, quando o governo italiano taxou a produção de bebidas alcoólicas na Sicília. O resultado foi o abandono progressivo das uvas que geram o vinho rico e capitoso daquele terreno vulcânico. “É um solo rico e de uma estrutura ideal, em três camadas. A última delas retém a água necessária e faz com que as vinhas ganhem raízes longas e robustas”, comenta o engenheiro agrônomo Domenico Dantoni, engenheiro agrônomo, responsável pela Tenuta Tascante, um dos rótulos da grife Tasca D’Almerita.

 

Terraços na Tenuta Tascante: degraus do tempo (Foto: Pedro Mello e Souza)

 

No caminho entre as diferentes parcelas da propriedade, onde predomina o cultivo da casta nerello mascalese, Domenico ia mostrando, entre os terraços que esculpem a paisagem, algumas marcas recentes da atividade do Etna. Em uma delas, uma língua de 50 metros de largura de uma lava já esfriada, que devastou vinhedos na vizinhança imediata. “Não há como conter. As populações nos vilarejos apelam para os santos – e cada local tem o seu”, diz o engenheiro.

 

 

Mas no passo da tragédia está, ironicamente, o caminho para a personalidade dos vinhos do Etna (os IGT Etna Rosso), em uma área que, vista de cima, toma toda uma meia-lua em torno da cratera, descendo de norte ao sul pela vertente leste. Há vinhas plantadas em terrenos mais altos, mas a área da Tascante está em torno dos 400 metros, que garantem os graus de maturação das uvas e as suas expressões de mostos e terrenos: frutas vermelhas, couros e um quê de mineral.

 

São essas características que marcam a prova do Tascante 2009, sua segunda safra e uma das levas de vinhos mais recentes dos pés do Etna. E é também o que senti no Benanti, já não me lembro qual safra, mas que foi aberto na minha frente, pela própria Silvana Bianchi, nos áureos anos 80, no Quadrifoglio. É a resposta a um solo bravio e um homem renitente, que venceu o tempo que marca as copas e os copos da região.

 

 

 


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Depoimentos

  1. simone disse:

    Sicilia …mais a Sardenha entre as ilhas mais lindas do planeta!!!

  2. Cris Beltrão disse:

    🙂