Denúncia!

[29 jan 2013 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]

Martini: a arma do crime (Foto: PMS)

Essa, reconheçam, é muito grave. Denuncio o sr. James Bond pelo crime de esbulho e o desafio a retratar-se em público: o que ele bebe não é dry martini – é vodka martini, uma bebida que não se assemelha à original nem na aparência, nem nos aromas, nem na elegância, nem no caráter. Enquanto aguardo o pedido formal de desculpas do réu, faço um histórico do caso: a estréia do novo filme de nosso agente secreto reacendeu a discussão em torno dos coquetéis. A preferência de 007 pela variação, uma solução agradável para o cliente inocente, mas um atentado traiçoeiro para os puristas, coloca em dúvida a sua lealdade a uma das bebidas favoritas da Rainha. E sua postura diante do reino dos coquetéis.

 

Há um atenuante no caso do sr. James. As variações em torno do martini comandam as tendências nos bares da atualidade, embora o que se mantenha do original seja somente a taça. A vodca e os sucos de frutas substituíram o gim e as azeitonas. O humor inglês prevê a presença de um vermute como o Noilly Prat, desde que sua presença não seja inferior a um metro do copo. Já a criatividade dos bartenders modernos prevê a criação de outras bebidas com apenas uma breve referência ao clássico. É o caso appletini, mais famosa das acrobacias contemporâneas, em que até a limpidez do original se perde: é turva e verdinha.

 

Para a experiência, o roteirista da série James Bond pode evitar a presença de bandidos e mocinhas: o guia Michelin destaca o venerável e circunspeto bar do hotel Duke’s, na St. James Street como o cenário para o mais perfeito de todos os martinis: azeitonas da Puglia, zest de laranja da costa amalfitana e o raríssimo Nr. 3 London Dry Gin.

 

A escolha do gim pode ser polêmica: na receita do escritor Ernest Hemingway, era preparado com Gordon. Ele tomava no Chicote, bar do Gran Via, em Madri. Sobre a “personalidade da bebida, a tirada de outro escriba: W.C. Fields, e sua irônica referência ao seu estado etílico habitual: “De manhã, nunca tomo nada mais forte do que o gim”. `Por fim, quem assistiu A Feiticeira, seriado dos anos 70, sempre via o marido no bar tomando porre de gim tônica. Chegava com a boca cheia de azeitona.

 

 

 


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