Atala no Manhattan

[19 maio 2013 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]

"Vivemos a coisa do patinho feio, nunca tivemos autoestima por nosso patrimônio gastronômico"

 

Nas duas décadas do Manhattan Connection, muito mudou em quorum: Paulo Francis, Arnaldo Jabor, Nelson Motta, Diogo Mainardi, deram tons variados ao programa. Mas pouco mudou: mesmo com todas essas variações de bancada, a discussão sempre esteve um passo além da ironia – é a graça do programa – mas com os dois pés enfiados, fundo, na inteligência, na atualidade e, especialmente, na análise.  Por isso, por mais incensado que seja o entrevistado do dia, é bom que a pessoa não se leve a sério, especialmente na área mais pobre do programa, a gastronomia, que, quando está em pauta, é tratada apenas com aquilo que o setorista nos traz, o texto de um press release.

 

Mas Alex Atala chegou com um briefing diferente.  Trouxe discursos montados, alguns já datados, mas flexíveis – seriam facilmente desmontados, mas o que não falta ao chef é inteligência, sagacidade e senso de oportunidade. E ele se atreveu quase todo o tempo à análise daquilo que o jogou ao estrelado: a 50 Best, lista de uma certa revista inglesa, a Restaurant (que procurei, nunca encontrei) com patrocínios não citados de grandes empresas interessadas no resultado.  Mas, voltando ao programa, pode-se fazer um resumo do que foi discutido e afirmado pelo chef que frustrou o Brasil, que achava que seria campeão em mais um título improvável: o da gastronomia. (Como duvidar, se, afinal, a única chance do país agradar seus torcedores está na irregularidade de uma bola cheia de arestas ou dos ventos na vela de sobrenomes pomeranos.)

 

 

Resumindo, eis o que Alex Atala disse:

 

O DAY AFTER DOS RESULTADOS

 

“É fundamental adotar discurso menos tímido em relação à gastronomia brasileira e e mudar a visão que se tem sobre a América do Sul. Os olhos da mídia internacional estão voltados pra cá, mas agora temos de fazer a lição de casa. Temos de aprender a exportar, como fazem bem o Peru e o México.”

 

COMO LIDAR COM ISSO

 

“O que falta pra nós é aprender a exportar essa diversidade, essa qualidade. Brasileiro confunde comer bem com comer informalmente, mas vivemos a coisa do patinho feio. Nunca tivemos autoestima por nosso patrimônio gastronômico e temos de aprender a fazer isso lá fora antes que o façam por nós.”

 

A RELAÇÃO ENTRE O BRASILEIRO (CONSUMIDOR) E O BRASILEIRO (PRODUTO)

 

“Vendemos produtos para valorizar outras cozinhas, não a nossa. Com nossos ingredientes, fazem fusões, não versões de nossos pratos. O europeu tem mais autoestima, mais orgulho. Há o exemplo da mandioca e seus subprodutos: tapioca, farinas e tucupi podiam ser mais bem trabalhados. Ao contrário do que pensam, o tucupi é muito leve, apesar de ter a força de um shoyu. A falta de trabalho causa efeitos como o da tapioca, que os europeus pensam que são asiáticos.”

 

STREET FOOD

 

“Regulamentação da comida de rua está sendo revista. A comida de rua é o cartão de visitas de um país. Estranho chamarem a comida de boteco de baixa gastronomia. Isso é falta de carinho. Dá pra fazer coisas incríveis com coisas muito acessíveis. O restaurante fica caro por conta de uma estrutura diferente. Nossa logística de transporte, por exemplo, é complicada. Trazer coisas de Mato Grosso, Roraima ou do Sul custam caro na equação final do prato.”

 

A LISTA DO 50 BEST

 

Toda lista é suspeita, especialmente quando você está dentro. É uma lista ansiosa, mas que responde ao que acontece: viaja-se mais, as pessoas conhecem mais. Mas não tem nomes fundamentais (ele não citou quais)

 

SOMOS BONS OU NÃO?

 

Não sei se a cozinha brasileira é a melhor, mas garanto que não é a pior.

 

 

"Os europeus compram nossos produtos para valorizar a culinária deles, não a nossa"

 

 


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