Cadê o Bruno?

[14 dez 2011 | Pedro Mello e Souza | 4 comentários ]

Ainda não li ou folheei. Mas, de cara, não entendi bem quando vi que o crédito do jornalista Bruno Agostini foi somente o de “organizador”. E que sequer está na capa. A bem da verdade, é bom que se saiba que a pessoa que autografou o Guia do Sabor Carioca, no último dia 15 de dezembro, não só esteve em todos os restaurantes listados – anonimamente, vale registrar – como foi o redator de cada uma das resenhas e autor do trabalho exaustivo de colher as minuciosas informações de cada casa (horários, telefones, cartões que sempre mudam, um saco!) e demais detalhes que fazem dele, senão o autor da idéia, o autor da obra.

 

E foi também um exercício de alguém que já freqüenta restaurantes desde cedo, antes na companhia do pai, outras já com a precoce cumplicidade da filha Maria, com a gana do apuro, com o olho (e foco, – Bruno é excelente fotógrafo) na aparência e faro jornalístico nos aromas e sabores. Já vi livros em que os verdadeiros autores são colocados com essa suspeita pecha de coadjuvante. Os maiores podem até sugerir a condição por grandeza, quando seus textos se misturam a outros, como os de Massimo Montanari, que chama para a importância das monografias que publica, de seus alunos. Ou no caso de um maestro como Mstislav Rostropovitch, que, com sua gigantesca personalidade, exigiu que fosse o quarto violoncelo na chamada do CD de um quarteto de Vivaldi, valorizando os outros músicos que o acompanharam.

 

Mas não é o caso. O fardo do conteúdo foi todo o de Bruno Agostini. Repito, não li, mas a opção de omiti-lo, por quem publicou o livro, me chamou a atenção. Mas nada disso tira o mérito de um dos poucos no Rio – quiçá no Brasil – a merecer o crédito como o nosso orgulho espera. Teria sido a juventude do autor? Ou a autoridade em gastronomia só se adquire com a idade decana? Nada disso importa quando a atuação do autor, que eu conheço bem, é, nesse caso, muito mais a de reportar, mas a de carregar consigo a responsabilidade de avaliar o presente da restauração carioca, mas também o peso do seu futuro. Mas o que importa é que teremos a crítica como convém, aquela que informa, indica e orienta, mas sem conduzir (ou, pior, induzir) jamais.

 


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Depoimentos

  1. Meu camarada, saudades tuas.
    Só uma observação. Estive, sim, em todos os lugares indicados. Dos que não conhecia, recebi uma verba para ir visitá-los, e fiz isso anonimamante. Mas há lugares, muito poucos, em que jamais estive nessa condição, como o Oro, onde jantei umas cinco ou seis vezes, ora convidado por eles, ora em eventos relacionados ao vinho. Não me lembro de outro, mas é possível que haja. Grande abraço

  2. ah, sim: e a Aline Duque Erthal me ajudou como uma anja a fazer o livro, colhendo informações e cuidando do serviço. Grande Aline!

  3. Cris Beltrão disse:

    Dizer o quê? Sou fã do autor desse post e fã do autor do guia.

  4. Mas e agora, já leu?
    🙂 abração