Barley wine

[15 jun 2015 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]

É densa como uma calda, com paladar pesado mas carinhoso como uma colherada de um brigadeiro ainda quentinho. Própria, portanto, para os nosso breve inverno – e contrapartida para o que o modismo do comfort food, a comidinha caseira à européia. Entre os ingleses, era companhia certa para o steak & kidney pie, um empadão com molho suculento, com carnes e rins de boi. Aqui, guarnece facilmente uma feijoada. Estamos falando da barley wine, que, apesar do nome, é um estilo de cerveja inglesa bem antiga – mas com muita relação com o vinho.

 

Um belo barley wine brasileiro, o Wäls EAP (Foto: Pedro Mello e Souza)

Mas por que “wine” e qual a confusão com o vinho? Por três motivos. Primeiro, estamos falando de um método de produção de cervejas dos tempos de bloqueios navais contra a Inglaterra, forma popular na época para pressionar politicamente pelo estrangulamento do comércio, o que afetava – e como – a vida cotidiana. Com bloqueio, sem vinho. Foi quando um grupo de aristocratas de Londres reuniu-se à mesa para pensar em uma cerveja com o corpo e o caráter que, de alguma forma, lembrasse o vinho, inclusive em sua graduação alcoólica.

 

A primeira barley wine chegou por aqui com a liberação das importações – e a libertação dos gourmets – no início dos anos 90. E veio exatamente dessa mesa de ingleses, de um século e meio atrás. Era a Bass, que surpreendeu muita gente com a cor de caramelo do estilo. Nessa época, lugar de cerveja dessa cor era o lixo. O problema é que nessa nossa explosão gourmet chegava coisa demais, em levas oportunistas de fornecimentos erráticos. E a Bass praticamente sumiu.

 

Sierra Nevada Bigfoot Ale, uma barley wine da California, no HerrPfeffer (Foto: Pedro Mello e Souza)

O segundo motivo que liga a barley wine aos grandes tintos é a maturação e o potencial de guarda. Sim, a barley wine pode envelhecer. E deve, já que a densidade dos seus maltes e a alta graduação alcoólica pedem um amaciamento, que, muitas vezes, é feito até mesmo em barrica. O resultado sob o colarinho é o mesmo que está nos grandes vinhos doces: amêndoas, nozes, frutas secas, e uma dose quase juvenil de caramelos. Quem fala em maturação, fala em safra, o que nos aproxima ainda mais dos tintos.

 

As experiências com barley wine, com todas essas marcas de calores e sabores já estão bem presentes no mercado. Não só da parte dos britânicos, que estão aqui com a Brew Dog Brown King, mas também os alemães, com a Crew Republic e, principalmente, os americanos, com a Sierra Nevada, que um dos proprietários, Steve Grossman, uma espécie de Messi das barley wines, traz sua Bigfoot da Califórnia. Ele fez questão de vir por um motivo simples: o Brasil é o primeiro país do hemisfério a ter a sua cerveja com fornecimento regular.

 

Steve está certo. A barley wine é um dos estilos adotados pelas cervejarias nacionais, apesar da complexidade da produção e da maturação. Já falamos aqui das experiências da Baden Baden Red Ale (barley wine apensar do nome) e da Wäls Eap. Mas nosso sommelier campeão, Gil Lebre lembra de uma experiência há mais de cinco anos, quando cervejeiros como Leonardo Botto e Edu Passarelli, lançaram uma cerveja do gênero, a Beertruppe. “Foi a melhor cerveja que tomei na minha vida”, disse, quase sonhando com duas informações que correm à boca pequena: uma, a Beertruppe pode ser relançada; outra, que há duas barricas repousando na sede da Bamberg, sob o olhar de seu proprietário, Alexandre Bazzo, que também assinou a cerveja.

 

 


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