No Blanca, Nova York

[15 fev 2015 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]

Balcão do Blanca: 12 pessoas (Foto: Ana Cecilia Gros)

Por Adriana Mattar e Ana Cecília Gros

 

Não é para todos, não é para ficar voltando sempre, mas ir ao Blanca é um programa irresistível para o gourmet contemporâneo: maratona de pratos, reserva difícil, e chef incensado pela mídia, do Village Voice e do New Yorker ao inderrubável New York Times. A reserva não é só difícil – é incancelável, como no caso do Atera, em Manhattan, onde que a reserva é garantida com algo semelhante a um ticket, pago no cartão de crédito, com antecedência.

 

Explica-se tanta festa em torno do restaurante: a fórmula é a mesma do Chef’s Table, no mesmo Brooklyn, três estrelas no Michelin: apenas doze lugares e um rosário de 24 pratos. A diferença é que, no Blanca, o astral é alto e o chef não traz ao ambientes suas pendências psicológicas, crises de egocentrismo ou problemas mal resolvidos com a própria insegurança – e, por isso, permite fotos de seus pratos, livremente. Aliás, o aviso está na lousa da entrada: NO BAD VIBES.

 

Blanca: cordeiro com geléia de hortelã e favas (Foto: Ana Cecilia Gros)

No cardápio, o lado psicopata tem mesmo de rolar solto. Há camarões do tipo “glass shrimp”, transparentes ao natural, há as natas de nozes com bambu e ameixas, há o bonito curado com couve-flor, o agnolotti de plâncton e o ravioli de nduja, o ainda pouco explorado peixe akamatsu e, na sobremesa, o óbvio: cebolas. Mas com pêssegos e pistache, claro, antes da chegada do poblano cake com tamarinho e sua folhinha de papalo.

 

Ao fazer a reserva, escolha o primeiro dos dois turnos. Começa pontualmente às seis horas da tarde e, nesse momento, o entardecer do Brooklyn dá tons belíssimos ao ambiente do restante, especialmente no outono. Vale a pena alugar um carro com motorista, o que reduz problemas como erros de caminhos e de estacionamento. Atrasos, o chef não perdoa. Ele tem origem italiana. É Carlo Mirarchi, que brinca em sua cozinha aberta como em um parque de diversões.


Agnbolotti de 'nduja (Foto: Ana Cecilia Gros)

A equipe toda veste bermudas com jaqueta branca e abrem com suas grandes facas, na frente de cada cliente, cada item experimentado. No ambiente, o único cardápio em que o comensal tem direito a alguma escolha: as músicas, tocadas em vinil por um DJ das antigas. No fim, tem gente que dança e o ambiente é de festa íntima. Delicioso… Assim como a comida apresentada em pequenas e delicadas porções.

 

Influência japonesa, técnica perfeita e bom humor marcam sua jovem cozinha. Abriu há pouco menos de dois anos. Fazem a própria manteiga que acompanha um espantoso pão de abacaxi do Havaí. A saída passa obrigatoriamente por outra casa do chef Mirarchi, uma pizzaria foodie, animada, dá vontade de sentar e ficar mais por lá. Enfim, um lugar para se ir de mente aberta e preparada para diversão e inspiração.

 

Poblano cake, tamarindo e as folhinhas de papalo (Foto: Ana Cecilia Gros)

A mensagem positiva na porta do restaurante, no contraponto a chefes medrosos (Foto: Ana Cecilia Gros)

 


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