A lei do acarajé

[17 set 2011 | Pedro Mello e Souza | 4 comentários ]

Acarajé servido em Santa Teresa, registrado no livro "Guia Carioca da Gastronomia de Rua", de Sérgio Bloch, com foto Marcos Pinto.

 

Agora é lei: depois das igrejas, monumentos e o pelourinho, chegou a vez do acarajé ser tombado. Foi no no dia 2 de dezembro de 2004, em Salvador, com direito a decreto do Iphan e presença do Ministro da Cultura, o igualmente baiano Gilberto Gil.

 

Ato belíssimo, homenagem justíssima, mas talvez nem fosse necessário, tal o cuidado e o orgulho com que cerca de 5 mil baianas em Salvador dedicam à receita – no mesmo ato, elas ganharam também reconhecimento oficial de sua profissão.

 

Com uma paciência de todos os dias e todos os santos, deixam o feijão-fradinho de molho, tiram o olhinho de cada grão, moem com temperos e cuidados, batem tudo, até a uniformidade da maça, com aquele o terno vigor de seus braços roliços – e fritam no dendê.

 

O resultado, rico tanto em vitamina A como em tradição de oferendas a Iansã, é a sua marca registrada no morder: a casquinha dourada e crocante e uma massa aromática e macia, entreaberta para o recheio de vatapá, da colherada de camarões secos e dos lances da pimenta e da cebola picadinha.

 

O Iphan tem razão: é um patrimônio. E é também um documento histórico, um petisco que os nigerianos já curtiam e nos exportaram com nome e tudo, nos afirma Câmara Cascudo. E quem nos confirma é Dorival Caymmi, na letra da música “Preta do Acarajé”, em que reproduz os antigos pregões do pelourinho com a origem do nome da iguaria: “O acará jé ecó olailai ô”.

 

No verso de Caymmi, a etimologia ioruba do acepipe (akara) e de seus similares, espalhados em toda a linha de colonização pós-colombiana, que vai do Brasil ao Haiti, passando pelo Caribe. Nessas regiões, prevalecem petiscos como o accras de morue, preparado com bacalhau seco.

 

 


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Depoimentos

  1. Sabe Pedro, aqui pertinho de casa, todos o domingos e feriados, fica uma barraca montada com várias baianas fazendo Acarajé. Vou caminhar na praia e sinto aquele cheirinho… Mas acredita que nunca comi? E está sempre cheio! Depois que li seu post tenho que ir lá fazer uma matéria com elas… Vão ficar orgulhosas com essa notícia. Bjss

  2. Sabe Pedro, aqui pertinho de casa, todos o domingos e feriados, fica uma barraca montada com várias baianas fazendo Acarajé. Vou caminhar na praia e sinto aquele cheirinho… Mas acredita que nunca comi? E está sempre cheio! Depois que li seu post tenho que ir lá fazer uma matéria com elas… Vão ficar orgulhosas com essa notícia. Bjss

  3. Alessandra Dantas disse:

    gostaria de saber aonde encontra a lei que permite a baiana trabalha com seu tabuleiro em qualquer lugar do brasil,ser poder me responde eu irei corre a frente dessa lei e fazer ela valer

  4. […] talheres.info . foto de Marcos […]