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O bom gosto da Three Monkeys
[19 mar 2018 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]
Das impressões de Monet à Benetton de Gerhard Berger, um século de arte no rótulo da IPA Nema, da Three Monkeys (Foto Pedro Mello e Souza)

Das impressões de Monet à Benetton de Gerhard Berger, um século de arte no rótulo da IPA Nema, da Three Monkeys (Foto Pedro Mello e Souza)

Meu lema: bom gosto e gosto bom, nessa arte à la Monet. Lindíssimo rótulo da “IPA Nema”, session IPA que a carioca Three Monkeys acaba de lançar. Manto bronzeado, corpo fino, leve como convém, duplamente refrescante pelo efeito da chamada DDH, uma dupla rodada de dry hopping, com a carga dos lúpulos no fim do preparo elevado a uma adorável potência de amargores, aromas e sabores.

 

Na arte do rotulo, um grafismo que, de fato, relembra o quadro “Impressions: soleil levant”, que Monet pintou em 1872 e o excluiu do Salon, que era a grande mostra da epoca. Por zombaria, debocharam do nome do quadro e, tentando insultá-lo, tacharam-no de “impressionista”. Deu no que deu.  No grafismo modermo, traço semelhante foi visto nas pistas de Fórmula 1, decorando a mais bela de todas as Benettons, a de Gerhard Berger, em 1987.

 

 


Le grand Petit Gaston
[9 mar 2018 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]
Petit Gaston: do sudoeste francês, mais um ato do dinamico e biodinamico Alain Brumont (Foto Pedro Mello e Souza)

Petit Gaston: do sudoeste francês, mais um ato do dinamico e biodinamico Alain Brumont (Foto Pedro Mello e Souza)

Pacherenc du Vic-Bilh. Mal se reconhece o francês dessa esplêndida apelação do Sud-Ouest, nova denominação francesa de vinhos estalantes, reluzentes, brilhantes, das encostas dos Pirineus. Se nenhuma das palavras está nos dicionários, é porque a tradição da língua occitana, com seu braço gascon, seu charme de Catalogne Française e seu meio sangue celta vai prevalecer. É uma das atraçoes mais agradáveis da nova carta de vinhos do Bazzar.

 

Que o diga o inquieto, dinamico e biodinãmico Alain Brumont, que sempre sacode o mercado do Velho Mundo com nova ideias. Uma delas, vejam só, a de resgatar as técnicas ancestrais daquela região – e também suas uvas, que mostram a sua cara seca, ácida, sem interferências de madeiras, mas com o repouso sobre as lias, o manto do próprio fermento. O resultado remete a uma linha ainda mais fresca do viognier.

 

Fui pesquisar mais sobre a petit courbu e descobri algo sobre seu pedigree: 1) é do mesmo ramo genético do que a tinta tannat, que andou esquecida pelos vinhos de Bordeaux até ser relembrada pelos tintos uruguaios. 2) quando a crítica Jancis Robinson se referiu à uva, o exemplo foi exatamente… Alain Brumont! Tanto quanto a língua, as antigas técnicas se mantem – é o que faz da denominação um artigo tão especial. O mesmo com as uvas.

 

Se a petit courbu é a uva quente da estação de Alain Brumont, é também o anúncio da estação fria da carta do Bazzar. Tremenda opção para explorar uvas diferentes e paladares mais ainda.

 

 


Kaffee Kölsch
[4 mar 2018 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]

T - Copos - Cervejas - BRA - RJ - W-Kattz - Kafee Kolsch 01 (Foto Pedro Mello e Souza)

Beleza de café, beleza de kaffee, beleza de kölsch. Explico: as cervejas kölsch são marcos da leveza e da sutileza dos estilos de Colônia (Köln), na Alemanha. Sem forças e proeminências, abre espaço para dar à bebida outros sabores – no caso desse rótulo da carioca W.Kattz, o café (lá, “kaffee”), que entra também leve e também sutil. Rótulo alegre, elegante, beleza de cerveja e que, ao contrário do espresso que nos acende de manhã, é um café que ajuda a contemplar essa grande madrugada que nos ofusca o dia-a-dia.

 

 


Feijão vencedor
[25 fev 2018 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]
O feijão rico de Fernando Almeida, na Noi Leblon: o lado untuoso, e aveludado do feijão branco cannellini (Foto Pedro Mello e Souza)

O feijão rico de Fernando Almeida, na Noi Leblon: o lado untuoso, e aveludado do feijão branco cannellini (Foto Pedro Mello e Souza)

O que temos no cardápio dos sábados e domingos do restaurante e cervejaria Noi Leblon não é uma feijoada. Antes, é uma sequência biográfica do chef da casa, Fernando Almeida. Jeitão humilde, bem mineiro, de palavras arrancadas mas saborosas, ele conta como conheceu o feijão cannelini durante os anos em que viveu em Boston, trabalhando na área de banquetes do Museu de Ciências.

 

O feijjão cannellini, longo, muito branco e, na mão, a experiência necessária para dominá-lo (Foto Pedro Mello e Souza)

O feijjão cannellini, longo, muito branco e, na mão, a experiência necessária para dominá-lo (Foto Pedro Mello e Souza)

O cannelini é um tipo de feijão branco, semelhante ao que os franceses usam no preparo do cassoulet. De grão alongado, cor de marfim, elegante na aparência e no paladar, é delicado ao ponto de gerar um caldo aveludado, sem peso, mesmo ao absorver os sais e os fumeiros da carne seca e do chouriço português.

 

A barriguinha de porco fazendo o papel do torresmo, um dos acompanhamentos do feijão dos fins de semana (Foto Pedro Mello e Souza)

A barriguinha de porco fazendo o papel do torresmo, um dos acompanhamentos do feijão dos fins de semana (Foto Pedro Mello e Souza)

Com a feijoada que prepara, que chega à mesa com o refinamento de um feijão rico, Fernando prepara uma farofa de cúrcuma e a sua versão do arroz de brócolis português, todos eles com a leveza que exigiam os clientes de seus 22 anos nos Estados Unidos, dos craques do Celtics ao ex-vice-presidente Al Gore.  

 

A chegada, em travessa de cerâmica (Foto Pedro Mello e Souza)

A chegada, em travessa de cerâmica (Foto Pedro Mello e Souza)

A fórmula chegou ao Noi já pronta, arpovada e com um tempero de vitória – Fernando foi o vencedor do concurso Fecha a Conta, quadro do programa de Ana Maria Braga, exatamente com esse prato, com votos de profissionais como Katia Barbosa, uma autêntica feiticeira da arte em feijão.

 

Fernando Almeida: vencedor na tevê, na experiência em Boston e no feijão da Noi Leblon (Foto Pedro Mello e Souza)

Fernando Almeida: vencedor na tevê, na experiência em Boston e no feijão da Noi Leblon (Foto Pedro Mello e Souza)

Para acompanhar, duas dicas diversas das torneiras da casa. Uma, a Noi Sicilia, que, com seu toque cítrico rebate com a mesma intensidade que as laranjas proporcionam nas feijoadas clássicas. Ou uma Noi Rossa, que, com seus tons de torra, fazem parceria com os defumados da carne. Repito, não se trata de uma feijoada comum. Mais do que isso, é um feijão rico, untuoso, com uma textura na qual só os mineiros como Fernando sabem chegar.

 

 


Quinta do Pinto Branco
[17 fev 2018 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]
Quinta do Pinto, da área ao norte de Lisboa, um dos resultados do investimento em novas castas. (Foto: Pedro Mello e Souza)

Quinta do Pinto, da área ao norte de Lisboa, um dos resultados do investimento em novas castas. (Foto: Pedro Mello e Souza)

Uma das antigas histórias sobre a trajetória dos vinhos de Lisboa já apontava o rumo da qualidade do futuro vinho da Estremadura. Dizem autores como Richard Mayson, em seu livro Wines of Portugal, a respeito do sucesso daqueles vinhos em Londres,  – na época da presença das tropas dos aliados ingleses, durante a resistência de Portugal ao exército de Napoleão.

 

Esses vinhos poderiam vir da área de Torres Vedras, norte de Lisboa, um dos fortes da defesa, e de suas cercanias, que forneciam o vinho para as tropas. Ali, muitos produtores de outras áreas do país, aprimoraram sistemas, plantaram novas uvas e refizeram a fama da região, conduzindo normas que autorizam, hoje, mais de 80 castas diferentes.

 

O reflexo das novas experiências está em rótulos como a Quinta do Pinto Branco (R$ 106,30, na loja A Garrafeira), composto por três uvas portuguesas – arinto, antão vaz e fernão pires – e três francesas – chardonnay, roussanne e sémillon. O resultado, complexidade, aromas, qualidade e a raça dos rótulos da nova denominação dos vinhos de Lisboa.

 

 

 


As sardinhas do La Marine
[16 fev 2018 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]
Sardinhas marinadas do La Marine, na ilha de Noirmoutier, em foto do seu autor, o chef Alexandre Couillon.

Sardinhas marinadas do La Marine, na ilha de Noirmoutier, em foto do seu autor, o chef Alexandre Couillon, publicada em sua página pessoal, no Instagram.

O frescor dessas sardinhas chega a ferir os olhos. Pescadas a metros do restaurante La Marine, escolhidas a dedo pelo chef Alexandre Couillon, eleito cozinheiro do ano pelo Guia Gault-Millau, colhe um misto entre o frio do Golfo de Biscaia e a tradição dura mas adocicada da desembocadura do rio Loire.

 

Noirmoutier é berço de delicadezas como ostras e flores de sal, quase uma ilha ligada por um fiapo de terra ao norte de outra referencia, Bordeaux.

 

A linha do restaurante, que busca sua terceira estrela no Guia Michelin, combina mar e legumes frescos, servidos em menus-degustação, como somente lá podem ser degustados e, muitas vezes, reconhecidos – os antigos habitantes de Noimoutier tem seu vocabulário próprio, remanescente do frances falado na época da Revolução Francesa

 

5 Rue Marie Lemonnier,

85330 Noirmoutier-en-l’Île,

France

 

 

 


Dom Haus Barley Wine
[15 fev 2018 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]
T - Copos - Cervejas - BRA - SC - Dom Haus Limited Edition Barley Wine 01 Strong Herr (Foto Pedro Mello e Souza)

Grafismo psicodélico: beleza na forma e no conteúdo da catarinense Dom Haus Barley Wine (Foto Pedro Mello e Souza)

Recentemente, fiz uma matéria belíssima sobre a arte brasileira nos rótulos de cerveja. Por mais que o meio venda uma imagem irreverente, apuramos rótulos de beleza rara, estilos apurados, grafismos belíssimos. É arte seria, como já foi a nossa criação de capas de discos. Pena que não deu espaço para todas.

 

Especialmente essa aí, a catarinense Dom Haus Barley Wine, exuberante como seu desenho, em um estilo robusto, difícil de se obter, fácil de se errar – já vi exageros em caramelos, desequilíbrio no álcool, surgimento de amargores, em um resultado incompatível para o que é uma cerveja nesse estilo elegante, uma comfort beer, de degustar lento, contemplativo e, pelos alto teores, cauteloso.

 

 


Guaspari, Vista da Mata
[14 fev 2018 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]
Vista da Mata, irmão mais novo do Vista do Chá: músculos na Guaspari, em São Paulo (Foto Pedro Mello e Souza)

Vista da Mata, irmão mais novo do Vista do Chá: músculos na Guaspari, em São Paulo (Foto Pedro Mello e Souza)

Era para ser um coadjuvante do Vista do Chá, vinho maior da paulista Guaspari, mas o Vista da Mata 2015 ganhou sua identidade própria. Tem corpo, é musculoso, tem linhas bem definidas, é cheiroso. Tem a raça de seu irmão mais velho, o espetacular Vista do Chá, vinificado com uvas de parcela próxima. Aqui, temos elegância dos cabernets franc e sauvignon, com uma estrutura que poucos atingem nas condições da vinícola, antes focada apenas na produção de café. Com um pouco mais de idade, tanto na vinha quanto na garrafa, a vinícola ganha a segunda dimensão no cenário mundial do vinho.

 

 


Os novos clássicos
[10 fev 2018 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]

Textura, aroma, sabor, frescor dos ingredientes. Esse era o fundamento da cozinha moderna, do paladar puro que Ducasse sugeriu na linha tradição e Adrià completou, já na linha da criatividade. Os dois traçavam, cada um a seu modo, um caminho para a sutileza, para encantar o momento; e outro, o da intensidade, para morar na memória.

 

A cozinha dos primeiros seguidores de Adrià e Ducasse buscava o fundamento e tinha até sutileza, mas faltava a intensidade. Eram experiências boas mas esquecíveis – não tinha clássicos. Agora, tem. Basta provar, a cebola com uni de Alberto Landgraf, um expoente da cozinha que fez em São Paulo, no Épice (esse É é fechado), que poderia estar entre os mais votados do mundo se não tivesse sumido do cenário.


Stone Mocha IPA
[25 jan 2018 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]
Stout simulado nas notas da Mocha IPA, espetáculo que a Stone nos traz para a hora do café. (Foto Pedro Mello e Souza)

Stout simulado nas notas da Mocha IPA, espetáculo que a Stone nos traz para a hora do café. (Foto Pedro Mello e Souza)

Pelo rótulo, tinha tudo para ser uma daquelas imperial stouts com aromas fortes de café, tanto o dos grãos quanto o da torra dos maltes. Mas, na via que as cervejas artesanais estão tomando na direção da quebra dos estilos, a surpresa chega na cor da cerveja:  cobre escuro. Alegam ser uma IPA, mas, outra vez, a cor engana.

 

No nariz, aquele cafezinho que acabamos de tirar e uma nota de Nescau que insiste em se manter na memória e, agora, encanta o paladar. Persistência, elegância, notas nítidas dos ingredientes e fidelidade, senão ao estilo, à proposta. Aliás, essa é a marca da Stone.

 

A pancada alcoólica de 9% se dilui no equilíbrio da cerveja e em seu corpo espetacular. Um caldo no melhor estilo comfort beer, aquela que tomamos com os olhos fechando devagar. Deixei ganhar alguns minutos de temperatura. Discordo de quem diz que isso é cerveja para acompanhar a sobremesa. De duas uma: ou a sobremesa é que guarnece a cerveja ou a cerveja é a própria sobremesa.

 

RÓTULO: Mocha IPA

PRODUTOR: Stone Brewing

PAÍS: Estados Unidos

ESTADO: Califórnia

CIDADE: Escondido

ESTILO: Variação de IPA

INGREDIENTES: Café e chocolate amargo

ÁLCOOL: 9%

IBU: 80

LÚPULOS: Cascade, citra e amarillo

MALTES: N/A

FORMATO: Garrafa 335ml

QUEM TRAZ: Buena Beer

ONDE: Delirium Café

 

 

 


Chope, corretamente
[24 jan 2018 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]
Mesa do Diagonal, no Leblon: enfim, a palavra chope escrita corretamente. (Foto Pedro Mello e Souza)

Mesa do Diagonal, no Leblon: enfim, a palavra chope escrita corretamente. (Foto Pedro Mello e Souza)

Primeira vez, em anos e anos, que vejo alguém escrever (e imprimir!!!) a palavra chope corretamente. E olha que eu já expliquei mais de uma vez o porquê dessa questão: nem no alemão, nem em lugar nenhum existe essa expressão. Fiquem bravinhos, se quiserem, mas saibam: “chopp” é o “menas” para o mundo cervejeiro.

 

Ou, para compreender bem, escrever “chopp” é o que gente como piccianis, lulas e temers esperam de seus eleitores: escrever errado, pensar errado e, como constatamos nessa semana, escolher errado. Bebam. Mas pensem, pesquisem, constatem e corrijam. E, por amor ao país, parem de errar. Beijo com colarinho.

 

 


Miami no Rio
[17 jan 2018 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]
Em busca da brazilian lager: Miami Beer, produzido na Mistura Clássica, em Angrza (Foto Pedro Mello e Souza)

Em busca da brazilian lager: Miami Beer, produzido na Mistura Clássica, em Angra dos Reis (Foto Pedro Mello e Souza)

Temperatura perfeita para mais uma rodada de degustações, da série tarefa dada é tarefa cumprida. Apesar do nome, a cerveja é bem carioca. Ou brasileira. Ou brazilian, no caso dessa cerveja, dita american lager, mas de frescor compatível com nossos humores.

 

Fresca, elegante, versátil para acompanhar entradas e pratos principais – limpa as gorduras, refresca os sais, rejuvenece a boca, alegra o caminho para a próxima garfada. O lado Miami está no design do rótulo, com o traço art-déco.

 

 


Tomate miúdo
[11 jan 2018 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]
T - Palavra - Tomate - Tomates miúdos com azeitão fresco - Foto Pedro Mello e Souza 500

Tomate miúdo, azeite de cordovil e queijo azeitão fresco. Leveza antes dos sabores mais pesados da mesa alentejana (Foto Pedro Mello e Souza)

 

Saladas alentejanas, há várias. Abusam de folhas, bacalhaus, azeitonas, algumas se aproximando até das fórmulas internacionais da salade niçoise. O curioso é que poucas delas recorrem ao tomate, um dos ingredientes que aquela saborosa fatia de Portugal mais preza em sua cozinha. Esse aí é o chamado tomate miúdo, que tem a suculência, a doçura e o tamanho de uma ameixa.

 

A receita é o básico absoluto: o queijo azeitão fresco, ainda branco, os oréganos (lá, oregãos) e a rega do azeite da casta cordovil completam o conjunto, disposto sobre as rodelas do tomate, cortados nao muito finos, para manter a suculência e a refrescância. Façam como eu fiz, comam de colher.

 

O formato salada desse tomate da foto é incidental, quase acidental. Afinal, o fruto é olhado mais como uma base para sopas aveludadas, mas rústicas, muito saborosas, em que o fatia de pão no fundo ainda ganha a saliência de um ovo pochê – ou escalfado, já que estamos onde estamos.

 

Outro olhar inteligente da região para o tomate está no fato de uma das poucas, talvez a única, a ver o tomate como fruta. O resultado, incontestável, é o doce de tomate. Pedaçudo, compotudo, confitado – não vem do doce a expressão confiture? – e temperado com algo que eu jamais ententederei por que os cozinheiros descartam: as sementes. Um pau de canela e voilà.

 

 


Queijo Azeitão
[11 jan 2018 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]
Folhas espalhadas no outono dos anos, na Quinta da Bacalhoa: base nostálgica para o azeitão, que Portugal importou de... Portugal (Foto Pedro Mello e Souza)

Folhas espalhadas no outono dos anos, na Quinta da Bacalhoa: base nostálgica para o azeitão, que Portugal importou de… Portugal (Foto Pedro Mello e Souza)

Hero breakfast das segundas-feiras: queijo azeitão na colher, tal como concebido por um empresário de Setúbal, que mandou vir tudo o que era necessário para produzir a sua versão da distante Serra da Estrela, das ovelhas e do coalho aos queijeiros, (ditos roupeiros), suas famílias, instrumentais e outros quetais.Importação legitima de um pais chamado Setúbal, de outro, filosoficamente distante,

 

O resultado está aí, na minha frente, escorrendo com a mesma elegância do Moscatel Roxo na mesa longa e farta da Quinta da Bacalhoa, no copo, a acompanhar – e do olhar embevecido de quem o degustar. E o olhar nao engana, ja que a porção é calculada para ser individual. Por mim, seria o início e o fim desse interminavel desjejum matinal no qual todos nos tentamos trasformar nossas vidas.

 

 


Chez Claude
[9 jan 2018 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]

Tradução direta da expressão Chez Claude: Na Casa do Claude. Tradução ainda mais direta: Claude Está em Casa. Mais ainda, Claude Está se Sentindo em Casa. Ele anda circula, mete a cara nas mesas, checa se está tudo bem. Anda, mexe, dá ordens, faz observações, tira pedidos. Não é renascimento, é renacença de Claude Troigros, com seus 62 anos de ainda jovens, levando os clientes à sua cozinha – e, após décadas, levando sua cozinha aos clientes.

 

T - Rests - BRA - RJ - Chez Claude - Atendente 01 (Foto Pedro Mello e Souza)

Chez Claude: todos em casa (Foto Pedro Mello e Souza)

E leva literalmente: “quero que as pessoas se levantem e metam a cara na panela, cheirem, como se estivessem cozinhando em casa”. Mas ninguém se levanta – ninguém se senta também, já que a multidão ali fora espera, desde as seis da tarde, lugar na casa que não faz reserva. E vão chegando pratos. Muitos de centro de mesa. Talheres em um copo, o pessoal vai se servindo.  Todos se sentem em casa.

 

O ovo com seu tradicional caviar de tapioca e a farinha panco é o único que chega com cara de individual, mas um vai metendo a colher na casca do outro. O mesmo com o carpaccio de palmitos, vieiras e mousse de haddock, o mesmo com o risoto de camarão. “Tô fazendo tudo de novo, revisitando o que eu já fiz antes e vou mudando aos poucos”. Muda quando? “Sei lá, daqui a pouco, eu mudo”, ri. Claude está em casa.  

 

Carpaccio de palmito com vieira e mousse de haddock (Foto Pedro Mello e Souza)

Carpaccio de palmito com vieira e mousse de haddock (Foto Pedro Mello e Souza)

O salmão é um clássico que provou do pai. O cordeiro, um clássico que serviu ao filho. Nesse, ele mostra o que quer não só do restaurante, mas também do público. Ele abre as costeletas tenras e firmes e mostra o molho meio queimado no fundo. “Chega de cozinha teflon. Quero as pessoas passando o garfo no fundo das panelinhas e raspando aquele crocante queimado do fundo de ferro”, reclama, estendendo a casquinha na ponta do talher. Claude está se sentindo em casa.

 

Entre os vinhos, o protesto: não vai mais trazer os rótulos que mandava fazer, nas áreas vinícolas perto da área em que nasceu e cresceu: Roanne, na nascente do Loire, mas próxima ao frescor das uvas gamay, do Beaujolais. “Chega dessa loucura de vinhos que, lá, custam dois euros, mas que chegam aqui por 80 reais”, reage. “Agora, a aposta é no nosso vinho, o nacional”, entrega ele. No Brasil, Claude está definitivamente em casa.

 

Um dos poucos pratos individuais, ovo, caviar de tapioca, farofa de panco. (Foto Pedro Mello e Souza)

Um dos poucos pratos individuais, ovo, caviar de tapioca, farofa de panco. (Foto Pedro Mello e Souza)

O resultado está na sua carta, servida só em taça, marcada pelos vinhos que fez com Adolfo Lona, o mago dos espumantes brasileiros. “E dos brancos também”, retruca o chef , dando um spoiler para o chardonnay que produziu com a Dom Abel, guarnição da codorna. Com as carnes, um merlot suave e sumarento, que casou até com o calor do prato quente de frutas vermelhas da sobremesa, outro clássico de suas origens. Tudo como dantes, quando Claude já desconfiava de que estava em casa.

 

O chocolate é assombroso, a história, adorável. “A maioria do que vocês provaram vem de gente que eu achei na rua, que me deu coisas pra eu experimentar na esquina”. Nada de vinho de sobremesa – o espumante de Lona bastou para todas, inclusive para o clássico definitivo do chef, a crêpe de maracujá. Para quem não se lembra, precisou ele chegar da França para que a fruta ganhasse, degrau a degrau, a cozinha, depois a alta cozinha. Claude não sabia, mas já estava em casa.

 

T - Pratos - BRA - RJ - Chez Claude - Risoto de camarão 01 Seafood Troisgros (Foto Pedro Mello e Souza)

Lembranças do pai: risoto de camarão (Foto Pedro Mello e Souza)

“Vamos comer mais?”. Brincadeira, claro. Mas bem que ele gostaria. A noite já vai longe, ainda tem gente lá fora, desde o primeiro minuto da reinauguração do restaurante. Digo reinauguração pois aquele mesmo endereço do Leblon foi o primeiro de Troisgros. Hoje, tantos anos depois, Chez Claude ganha novo significado: Claude está de volta à casa.  

 

Espumante rosé nature, fresquiíssimo, parceria de Claude Troisgros e Adolfo Lona (Foto Pedro Mello e Souza)

Espumante rosé nature, fresquiíssimo, parceria de Claude Troisgros e Adolfo Lona: só na taça (Foto Pedro Mello e Souza)

T - Rests - BRA - RJ - Chez Claude - Cordeiro 02 (Foto Pedro Mello e Souza)

Por baixo cordeiro, o que Claude quer de sua nova casa: o pessoal passando o garfo no fundo da panela (Foto Pedro Mello e Souza)

 

 

 

 


A Tcheca do Botto
[1 jan 2018 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]
Estilo no paladar e na homenagem ao estilo chech pilsner, na Tcheca, de Leonardo Botto (Foto Pedro Mello e Souza)

Estilo no paladar e na homenagem ao estilo “chech pilsner”, na Tcheca, de Leonardo Botto (Foto Pedro Mello e Souza)

Quem esperava alguma explosão radical de criatividade de Leonardo Botto, vai ter de esperar a próxima. Criatividade, sobrou. Mas o radicalismo, ele deixou em cima da pia, para fazer uma das grandes homenagens que um cervejeiro poderia fazer a um estilo, que, se nao é primitivo, é primal: na abertura de sua casa, fez uma pilsen.

 

Cheirosa, densa, refrescante e, coisa rara, persistente, é cerveja com caráter original, malte pilsner também original, mão leve nos lúpulos, manto dourado, como convém. É homenagem ao estilo e também um toque na tecla vintage na qual os americanos já batucam  há algum tempo: o restorno às origens, com o good old lager style.

 

A mais notável das apelações das cervejas origina-se da cidade de Pilsen, na fronteira dos tchecos com a Áustria. Seu sabor ligeiramente amargo, remete menos aos lúpulos e mais à clareza o malte de seus cereais de origem, fez escola gerando produções similares em todo o mundo – o Brasil inclusive.

 

Dentro de toda a história da cerveja, a pilsen é uma variedade relativamente nova –  “apenas” 150 anos desde que foi produzida pela primeira vez.  Inspirou de tal forma a cervejaria alemã, a bávara, principalmente, que, atualmente, é considerada – e rotulada – como um dos sinônimos de ceveja ‘lager’ e um dos seus mais brilhantes representantes.

 

 


Os vinhos de Dickens
[22 dez 2017 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]

Contas de Natal. Coluna Letras Garrafais, publicada no caderno Rio Show, em O Globo, no Natal de 2017.

 

“A Christmas Carol”. No Brasil, “Contos de Natal”, um dos títulos famosos de Charles Dickens, que a minha geração conhece mais por David Copperfiels e pelo dilacerante Oliver Twist. É um conto meio baixo astral, com a lição de moral sobre o avarento e velhaco Ebenezes Scrooge, que, mal saberia o escritor inglês, viria a influenciar um dos personagens – este, sem moral nenhuma – dos últimos 60 anos, o Tio Patinhas. Ou, em inglês Scrooge McDuck.

 

Mas Dickens, indisciplinado que era com as finanças, tinha de bolar umas coisas diferentes para o jornal que escrevia, para garantir, além de seu sustento, o custo de uma de suas manias, os vinhos. No próprio cenário do conto, as correntes do fantasma da história se arrastam sobre a adega do negociante de vinhos – “mesmo os barris parecem ecoar de forma própria”, descreve, com a familiaridade de quem tinha o seu próprio canto de garrafas.

 

Em maio de 2017, foi revelado um inventário com os rótulos da adega de Dickens, realizada logo após a sua morte, em 1870, quando já tinha uma situação mais confortável e uma garrafeira mais bem recheada. Muito Bordeaux. Uma caixa de Château d’Issan e seis de Brane-Mouton, futuro Mouton-Rothschild. Mais três de Margaux e cinco de Léonville, fora um ou outro Lafite. O cara bebia bem.  

 

Curiosamente, nenhum champanhe, que demonstrou admirar em “Conto das Duas Cidades” – Paris, uma delas, mas durante a Revolução Francesa. Em um trecho, dá seu diagnóstico: Champanhe é um dos grandes extras da vida. Mas ficou por isso. No sombrio “Contos de Natal”, nem uma palavra sobre uma borbulha ou o espocar de uma rolha.

 

Tanto em autores como Dickens quanto em crônicas de historiadores, tento identificar, para trazer ao leitor, os antigos hábitos de celebrações que sempre nos pareceram eternas. Brindavam o Natal com champanhes? Pouco provável. Convenhamos que, na Londres de Dickens, um espumante festivo, no mais profundo solstício de inverno, era menos adequado do que um tinto austero para acompanhar a ceia, que acontecia depois da missa – os brindes finais e os votos de boas festas eram regados a vinhos do porto.

 

Aqui no Brasil, as celebrações com champanhe, na época do escritor, eram mais tímidas e, ao que parece, muito voltada a lançamentos de barcos – ou ao naufrágio de governos. No Baile da Ilha Fiscal, que aconteceu 19 anos depois do enterro de Dickens, relacionam-se o generoso Lacryma Christi e, em um serviço de 32 vinhos, apenas três rótulos de champanhe: Clicquot, Heidsieck Monopol e Louis Roederer.

 

Mas a conta de Natal de um Dickens no fim da vida, já abastado, era bem mais modesta do que a que temos hoje. Mesmo longe da avareza de seus personagens de Natal, ele fazia bons negócios com seu dealer de vinhos, de forma a nos influenciar em nossa conta de fim de ano. Aqui, não encontramos champanhes por menos de 300 reais. Se a situação permitir a audácia, a importadora Belle Cave oferece um rótulo que pouco se vê por aqui: o Louise Brison Rosé, de cor fechada, manto e paladar elegantes: R$ 336 a ampola.

 

Entre os espumantes de pura celebração, temos o Prosecco Luna Argenta, o cava Juvé y Camps, o Lambrusco Concerto Reggiano e o Clima Prosecco Brut. Reparem que só citei espumantes sobre os quais recaem preconceitos: cava, lambrusco, prosecos, que se mostram tão festivos e alegres, e tão avesso às averezas que precisamos enxaguar em tempos de renovação e de renascimento. Dickens gostaria desse conto de Natal.

 

 

 


O que é crowler?
[22 dez 2017 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]
Crowler da Growlers2Go, no Recreio dos Bandeirantes. Frescor por quatro dias (Foto Pedro Mello e Souza)

Crowler da Growlers2Go, no Recreio dos Bandeirantes. Frescor por quatro dias (Foto Pedro Mello e Souza)

Beer class com class beers. Para quem não sabe o que é crowler, vou tentar ser bem didático. É uma lata grande (essa aí, um litro), de parede um pouco mais espessa do que as latas comuns,  que se enche na hora com o chope escolhido. O nome é uma brincadeira com o “c” de can e o “rowler” do growler, com “g”, que é o recipiente em vidro ou cerâmica, ambos lindos mas quebráveis.

 

O cliente escolhe a cerveja de uma lista compreensiva, o atendente preenche e uma máquina própria fecha e faz a vedação no ato, na nossa frente, em cervejarias especializadas no formato. Na Growler2Go, optei por uma Labirinto Trip APA, que durou, fresquinha, cinco dias na geladeira.

 

T - Copos - Cervejas - BRA - RJ - Jeffrey IPA 01 Crowler, canela, pimenta-rosa, reino (Foto Pedro Mello e Souza)

No crowler da Jeffrey, o rótulo personalizado com a receita do maestro, como demonstrado durante o Mondial de la Bière (Foto Pedro Mello e Souza)

Durante o Mondial de la Bière, a Jeffrey enlatou a sua IPA diante do público, que acompanhou o sistema de vedação por pressão em alta velocidade das bordas da lata, para garantir que não ocorram trocas de ares ou atmosferas. Não segurei a onda e eliminei no dia seguinte: excelente.

 

Para festas, degustações, praia, jogo de futebol e, como no meu caso, café da manhã na cama, é a solução que caiu do céu – usou, descartou, parte pra próxima. Há mesmo aqueles que fazem o crowler para os clientes que estão sentados na mesa em frente. Bom para quem pede – mais cômodo e mais barato; bom para quem serve – sai mais e os barris rodam mais e se mantêm frescos.

 

 


Pêra Manca
[12 dez 2017 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]

Pêra Manca é um vinho multidisciplinar. Envolve histórias de descobrimentos, do Brasil ao Alentejo. Envolve discussões que vão das linhas dos rótulos à arte das falsificações. Envolve o avanço dos vinhos jovens e o lado venerável das velhas uvas. E envolve até as antropologias, das geológicas às linguísticas, com rápidas pinceladas de metafísica: no melhor estilo Dia da Marmota, foi provisão de bordo das caravelas rumo às Índias, mas, a rigor, acaba de completar 30 anos.

 

Arte no rótulo do Pera Manca Tinto 2013.

Arte no rótulo do Pera Manca Tinto 2013 (Foto Pedro Mello e Souza)

Vamos às histórias: quem curte um bom azeite, já viu, na mesa de restaurantes ou nas prateleiras dos supermercados, aquela garrafa curtinha, gordinha, estampada com um tremendo EA no rótulo. São as iniciais de Eugénio de Almeida, mais exatamente de Vasco Maria Eugénio de Almeida, que, com sua fundação, nos anos 1960, tomou a frente da divulgação dos vinhos (e azeites) da cidade alentejana de Évora, que os viajantes conhecem pelo paladar apurado do restaurante Fialho.

 

Na época, já eram conhecidos pelo Cartuxa um rótulo que, no Brasil, ajudou  Portugal a desbravar as cartas de vinhos um espaço que, por tradição, era francês ou italiano. Nos últimos 20 anos, o Cartuxa esteve nas cartas de vinhos de nove entre dez restaurantes portugueses no Brasil. Era um vinho fácil para todos: para o sommelier sugerir, para o comensal aceitar, para o cozinheiro harmonizar e, claro, para o cliente pagar.

 

Porém, muito antes da chegada do Cartuxa ao Brasil, já era conhecido, ainda na Portugal medieval, o nome Ribeira da Pêra Manca. Mesmo com o acento, a tal “pêra” era pedra, no português arcaico, da mesma forma que o Pero foi um rudimento de Pedro para nosso Vaz de Caminha. Era manca por conta da erosão de um determinado rochedo, que, antes majestoso, perdeu um pouco da pose, mas manteve a fama para batizar o riacho adjacente – e os vinhedos ao redor. Desses vinhedos teriam vindo muitos dos vinhos usados nas rações de bordo das caravelas, inclusive a do próprio Caminha.

 

Pêra Manca Branco: um oitavo do preço do tino, oito vezes mais o encanto. (Foto Pedro Mello e Souza)

Pêra Manca Branco: um oitavo do preço do tino, oito vezes mais o encanto. (Foto Pedro Mello e Souza)

Já contei antes aqui todas as agruras que o vinho Alentejo sofreu até chegar ao estrelato atual. Da praga da filoxera às ditaduras políticas, foram séculos de doenças biológicas e humanísticas. E o vinhedo da área da Pêra Manca sucumbiu a todas elas. Ficaram as sementes da fama e da mística, que voltaram a brotar em 1987, quando um dos herdeiros daquelas quebradas concedeu à Fundação Eugênio de Almeida a prerrogativa do uso da marca, e do belo rótulo, impresso, hoje, com a refinada técnica da água-forte. Mas em qual vinho aplicar esse rótulo?

 

Na linha dos vinhos de entrada, a vinícola produzia os EA brancos e tintos (R$ 65) ou os reservas (R$ 126). Na linha dos Cartuxas, tinham o Colheita e o Reserva (R$ 229 e R$ 398, todos na loja Espírito do Vinho). Mas foi eleito o antigo Cartuxa Garrafeira, maior vinho da Eugênio de Almeida, expoente das velhas (antigas) castas locais, como a trincadeira e aragonês. Para ser rebatizado, foi reestudado, repaginado, replantado. E tornou-se o Pêra Manca de hoje, ressuscitado, reinventado e, hélas, reajustado – onde há tanta fama e mística, há também um preço a ser pago.

 

Por uma garrafa de Pêra Manca Branco, um vinho português de exceção, no fim de 2017, estava por R$ 350. Pelo tinto, na mesma época, o susto: R$ 1.900. Sim, quase cinco vezes mais do que o branco. Inatingível para nós, mortais, é atraente para os colecionadores com posses. Mas também para os falsificadores. Para combatê-los, a vinícola apelou para a tecnologia e a parceria com a Casa da Moeda de Portugal, que projetou um selo holográfico de autenticidade, para proteger a clientela – e a sobrevivência de um vinho que insiste na tradição rica da vinha alentejana.  

Letras garrafais


Monk’s Café
[4 dez 2017 | Pedro Mello e Souza | Sem comentários ]
Van Steenberge, o jogo entre grave do corpo e o agudo das sours em Monk's Café (Foto Pedro Mello e Souza)

Van Steenberge, o jogo entre grave do corpo e o agudo das sours em Monk’s Café, mais uma belga espetacular (Foto Pedro Mello e Souza)

Antes de mais nada, o “Café” do rótulo não tem referência com o grão, mas a uma brincadeira com o ponto de encontro, o café europeu – que se torna mais brincadeira ainda, já que, em um café europeu, o menos provável é que se encontre um monge. Mas se eles lá fossem, o que discutiriam? Talvez um dos seus estilos mais polêmicos, indígenos, endêmicos, a cerveja sour.

 

Discutiriam o conteúdo da Monk’s Café, da cervejaria Steenberge, a mesma da Piraat e da Gulden Draak. O rótulo acusa uma red ale, que está mais para dark brown e ainda mais para sour ale. O azedo lembraria o de um remédio, fenômeno nada estranho para uma “brouwerij” de 1874, quando muito do que existia de alcoólico estava nas prateleiras das farmácias.

 

Amargor muito agradável, desde o nariz, quando uma nota de vermute mostra o há de estrutura na cerveja. O corpo agradável é uma ajuda aos iniciantes – nem todos vão ter boa lembrança de algo de vai amargar o presente e, claro, o futuro de sua compreensão sobre o estilo e sua aplicação sobre esse rótulo. Do tamarindo ao guaraná, há um alegre jogo de complexidades.

 

Para acompanhar, muitas opções. Uma delas, o ceviche, se o cítrico for delicado o suficiente para não destruir a delicadeza da cerveja. Outra delas – outras delas, melhor dizendo, seriam pratos acridoces, dos cheeseburgueres com reduções adocicadas de cebolas aos espetos com teriyakis.

 

RÓTULO: Monk’s Café

PRODUTOR: Van Steenberge

PAÍS: Bélgica

ESTADO: Flandres

CIDADE: Ertvelde

ESTILO: Flemish Sour Ale

ÁLCOOL: 11.8%

IBU: N/A

LÚPULOS: N/A

MALTES:  N/A

FORMATO: Garrafa escura, 355ml

QUEM TRAZ: Buena Beer